segunda-feira, 26 de outubro de 2015


2º LATAM ESG 2015 debate inserção das questões ambientais, sociais e de governança na análise de investimentos

RODNEY VERGILI e SANDRA RIBEIRO

A Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) e a EFFAS (The European Federation of Financial Analysts Societies) promoveram o 2º LATAM ESG 2015. O evento foi organizado pela Apimec SP e ocorreu, em 6 de outubro de 2015, na BM&FBOVESPA, em São Paulo (SP).

Lucy Sousa, ex-presidente da Apimec Nacional e atual conselheira da Apimec SP, abriu a solenidade e agradeceu palestrantes, patrocinadores, apoiadores e participantes.
Edemir Pinto, presidente da BM&FBOVESPA, ressaltou - em vídeo especial para o evento - o avanço das discussões a respeito da inserção das questões ambientais, sociais e de governança corporativa na análise e tomada de decisão de investimentos. 

Abertura
Sonia Favaretto, presidente do Conselho Deliberativo do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e diretora de Imprensa e Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, destacou que o 2º LATAM ESG 2015 marca a importância do tema e agradeceu a parceria com a Apimec e EFFAS. 
Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec Nacional (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), agradeceu a parceria com a BM&FBOVESPA e com a EFFAS, e lembrou que as informações sobre questões ambientais têm apresentado “um salto qualitativo”. 

Jesús López Zaballos, presidente da EFFAS, enfatizou a importância de se investir em treinamento e destacou os esforços da entidade de fornecer cursos, citando, por exemplo, o “Summer School” ocorrido em julho de 2015, em Madrid, com duração de dois dias (http://effas.net/events/summer-school.html). 

Painel "Diálogo com Investidores sobre Investimentos Sustentáveis (o que é material para a análise e decisão de investimentos? Dos Princípios aos Indicadores de Performance)"
 

Em sua palestra, Maria Lettini,  Associate Director of Networks and Global Outreach do PRI (Principles for Responsible Investment), discorreu sobre os seis princípios (http://www.unpri.org/about-pri/the-six-principles/) reconhecidos pelas Nações Unidas para ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance, ou seja, questões ambientais, de responsabilidade social e governança corporativa). Lettini afirmou que a missão do PRI é criar um “sistema financeiro sustentável”. 
Frank Klein, Executive Management Commitee of EFFAS & Deutsche Asset & Wealth Management, disse que incorporar as questões ambientais, de responsabilidade social e governança corporativa nas análises exige mudanças na mentalidade dos profissionais de investimento e das empresas, isto é, “é preciso ter o pensamento integrado”. Klein ressaltou que não há mais como relevar a materialidade das informações ambientais, sociais e de governança na análise e decisão de investimentos. “Disclosure envolvendo ESG é fundamental”, frisou.
Susana Peñarrubia Fraguas, Diretora da Deutsche Asset & Wealth Management e EFFAS Representative, apontou, também, a importância do Relato Integrado para uma melhor avaliação das empresas e para “o desenvolvimento da materialidade das informações?”. 

Brunella Isper,  Investment Manager do Global Emerging Markets Equity Team da Aberdeen Asset Management, afirmou que a instituição trabalha com perspectivas de investimentos com média de retorno para oito anos. “As questões ambientais, de responsabilidade social e governança corporativa são bastante relevantes em análises de investimento de longo prazo”, frisou. “O nível de governança influencia diretamente nas empresas que iremos investir, assim devemos incentivar empresas que buscam oferecer informação de qualidade e boas práticas como as do Novo Mercado da BM&FBOVESPA, gerando valor futuro para os acionistas”, declarou.  

Fabio Cefaly, gerente de Relações com Investidores da Natura, disse que pelo próprio nome a empresa nasceu com o conceito de preocupação com o meio ambiente e destacou os esforços da empresa em proporcionar informações relevantes para os acionistas e públicos de interesse por meio do Relato Integrado. Cefaly ressaltou, ainda, a extrema necessidade de os interesses de importantes investidores nacionais e internacionais serem contemplados nos modelos de análise de investimentos.
 
Lika Takahashi, analista-chefe e estrategista da Porto Seguro Investimentos, afirmou que, em geral, há pouca demanda de informações pelos investidores em questões de sustentabilidade. Ela ressalta, no entanto, a necessidade de se oferecer mais atenção na análise, pois dependendo da atividade da companhia os riscos ambientais, de responsabilidade social e governança corporativa podem ser elevados para a carteira de investimentos.
 
Luiz Fernando Rolla, diretor de Relações Institucionais da CEMIG, moderou o debate, enfatizando a importância de se levar em consideração os aspectos ambientais, de responsabilidade social e governança na análise de investimentos e geração de valor para a empresa, investidores e demais públicos estratégicos. Luiz Fernando Rolla lembrou que ao falarmos sobre a importância dos fatores de sustentabilidade esquecemos que o “Lucro deve ser valorizado como objetivo igualmente relevante sem o que as companhias não sobrevivem”.
 

Painel "Mudanças Climáticas e sua influência na Atividade Econômica" 

Sonia Favaretto, presidente do Conselho Deliberativo do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e Diretora de Imprensa e Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, destacou que o painel foi especialmente importante, pois o debate ocorreu bem próximo da 21ª Conferência do Clima (COP 21), que acontecerá  em dezembro de 2015, em Paris (França). 

Ricardo Zibas, diretor da KPMG,afirmou que a falta de cuidado com o meio ambiente  pode destruir uma empresa. Para Zibas, estão ocorrendo avanços, mas em geral há muito o que melhorar nos registros das iniciativas e dos impactos de reflorestamentos, escassez de água e aquecimento global. 

Tasso Azevedo, coordenador do SEEG/Observatório do Clima  (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), considera o reconhecimento das externalidades climáticas e a institucionalização dos mecanismos de ação mitigatória mais importantes do que chegar a um preço de carbono de referência. Disse que a meta brasileira está na direção correta, mas a intensidade é baixa. Segundo ele, temos a oportunidade para fazer a transição com metas mais relevantes. Apesar de o setor privado estar tendo um maior protagonismo, é muito importante a ação dos Governos, especialmente no Brasil, onde o desmatamento é uma das principais causas das emissões brasileiras, observou. O SEEG é uma iniciativa do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) no Brasil, de documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilização de forma simples e clara dos métodos e dados gerados no sistema. 

Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Banco Itaú, disse que cada vez mais os analistas vão precisar levar em conta as práticas sustentáveis em suas avaliações e que o sistema financeiro internacional terá papel relevante na transição para uma economia de baixo carbono.
Juliana Lopes, diretora para a América Latina do CDP (Carbon Disclosure Program),declarou que o CDP (http://www.cdpla.net/pt-br) fornece o maior e mais completo sistema global de divulgação ambiental. Atualmente, o CDP conta com 67 investidores-signatários na América Latina (62 brasileiros, 1 argentino, 2 peruanos, 2 mexicanos). Eles representam mais de 10% dos investidores-signatários em âmbito global, movendo US$ 87 trilhões de ativos, afirmou. 

Celso Lemme, professor de Finanças da  COPPEAD/UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) observou que o principal desafio é fazer um “valuation climático”. “Devemos testar diversas ferramentas, para conectar a ciência com valor e assim levar mais conhecimento para os analistas”, frisou. Destacou, ainda, que os analistas devem se esforçar em mudar seus modelos, abrindo mão da precisão dos cálculos específicos de preço em favor da abrangência dos resultados empresariais. 

Sonia Favaretto, presidente do Conselho Deliberativo do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e diretora de Imprensa e Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, concluiu o painel observando que cada um dos analistas “pode ser mais ambicioso na sua lição de casa”.
 

Painel "O Mercado de Capitais além do Mercado de Ações" 

Susana Peñarrubia Fraguas, diretora da Deutsche Asset & Wealth Management e EFFAS Representative, enfatizou a importância de se construir o banco de dados, realizar treinamento e desenhar as metas internas para cobrir as necessidades dos públicos de interesse. Destacou além das questões de rating ESG, de rating e risco financeiro, os riscos reputacionais e a pegada de carbono como informações materiais para a correta avaliação e decisão de investimentos. 

Justine Leigh-Bell, manager of Standards and Certification Scheme Climate Bonds Initiative (www.climatebonds.net), destacou os “green bonds” ou “climate bonds”, títulos de dívida atrelados ao financiamento de projetos ambientais sustentáveis como parte importante do processo de financiamento da transição para uma economia de baixo carbono e vê no Brasil um enorme potencial, apesar das dificuldades econômicas atuais. 

Fanny Tora, head of South American Markets da VIGEO (http://www.vigeo.com/csr-rating-agency/), enfatizou o papel da agência na classificação destacando a materialidades das questões relacionadas a riscos reputacionais. 

Gustavo Pimentel, diretor da SITAWI Finanças do Bem, apresentou um rating de títulos bancários considerando critérios ESG. Comunicou ainda que a empresa fechou uma parceria com a britânica Eiris, uma das líderes globais no segmento de pesquisa socioambiental, que permite acessar de 3.500 empresas listadas nas principais bolsas do mundo.  

Ricardo Tadeu Martins, presidente da Apimec São Paulo (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), moderou o debate e lembrou que o analista deve buscar que as empresas tenham transparência em suas informações. “Estamos brigando por isso”, afirmou. 

Painel "Autorregulação e Governança Corporativa: Perspectiva dos Investidores no Brasil e no Mundo" 

Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec Nacional, declarou que o GT Interagentes - grupo de trabalho que reúne 11 entidades do mercado de capitais - está em processo de elaboração do código único de governança corporativa. O objetivo do Código Brasileiro de Governança Corporativa é fortalecer as boas práticas e aumentar a transparência das informações prestadas pelas companhias abertas, minimizando fatores críticos para a decisão de investimento e, portanto, para a atração de capitais. 

Frank Klein, Executive Management Committee of EFFAS & Deutsche Asset & Wealth Management, enfatizou que os riscos de fraudes sempre estarão presentes. Aumenta por isso a importância de se observar os riscos corporativos de impacto social, ambiental e reputacional com mais rigor nas análises de investimento. O papel das instituições do mercado de capitais é muito importante para o aperfeiçoamento autorregulatório para redução dos riscos.
Frank Klein reiterou a importância do disclosure de informações, considerado o princípio do “pensamento integrado”, na prestação de contas das empresas. 

Carlos Frederico Aires Duque,  diretor-superintendente da Infraprev (Instituto Infraero de Seguridade Social), afirmou que há muitos desafios para a autorregulação e para a busca das melhores práticas de governança corporativa e cumprimento do dever fiduciário (lealdade e prudência) por todos os agentes do mercado de capitais. O investidor deve fazer o dever de casa de integrar as informações financeiras com as de responsabilidade social, governança e meio ambiente, enfatizou. “Não adotar essas práticas é faltar com o dever fiduciário. O avanço regulatório deve validar as práticas, em especial para investidores com compromissos de longo prazo como os fundos de previdência complementar”, declarou. 

Ramon Pueyo, director of Governance, Risk and Compliance da KPMG (Espanha), destacou a importância das informações intangíveis e da redução da perenidade das empresas e enfatizou em especial o papel da Governança Corporativa que ainda está deixando a desejar em muitos países da Europa. As forças de autorregulação e governança devem valorizar quatro vetores de informações: 1) Reavaliar os conceitos tendo em vista o crescente peso das informações intangíveis na geração de valor das empresas; 2) Preocupação com a longevidade das companhias que diminui desde o início do século 20; 3) Aumentar as práticas de “due diligence” para identificação das questões ESG materiais para a sobrevivência empresarial no longo prazo; 4) Permitir a construção de um ambiente de negócios que permita a sustentabilidade dos objetivos de longo prazo dos investimentos em ações e títulos corporativos. 

Maria Lettini,  Associate Director of Networks and Global Outreach do PRI (Principles for Responsible Investment), enfatizou a importância de se colocar a sustentabilidade no coração do sistema financeiro. 

Encerramento 

Ricardo Tadeu Martins, presidente da Apimec SP, destacou a honra da entidade ter realizado o evento que é um marco no debate das questões do ESG no mercado de capitais. Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec, agradeceu a participação de todos. 
Zaballos, presidente da EFFAS, disse que há interesse de se realizar novo evento no próximo ano e parceria em treinamentos dos analistas e profissionais de investimento. 


Eduardo Werneck, diretor de Educação e Sustentabilidade da Apimec, declarou ao final do evento que foi plenamente atingido o objetivo da 2ª Conferência Internacional EFFAS (TESGIA - Taking ESG into Account) ao estabelecer o caminho de aproximação com a União Europeia na adoção dos fatores ESG (do inglês Environmental, Social and Governance) aos fundamentos econômicos e financeiros na análise de investimentos. Werneck afirmou, ainda, que a Apimec vai atuar no caminho da interação entre analistas e públicos estratégicos relevantes na busca do constante aperfeiçoamento dos processos de análise, recomendação e decisão de investimentos. A recente filiação da Apimec como “network supporter” do UNPRI (http://www.unpri.org/) e a atual parceria com a EFFAS e o PRI vão reforçar o disclosure de informações nesse sentido, conclui Eduardo Werneck. 

Segue a íntegra das apresentações:

http://www.apimec.com.br/ApimecSP/show.aspx?id_materia=36598


Mais informações: http://www.esg-APIMECsp-effas.com.br/


Nenhum comentário: